Barbie & Ken Killers
No entanto, esses ostensivos cidadãos-modelo tramaram juntos o estupro, a tortura e o assassinado de pelo menos três mulheres jovens.
PAUL BERNARDO
Paul Bernardo
De uma família classe média de Toronto, Paul tinha dois irmãos mais velho e um pai violento, que agredia a esposa e abusava sexualmente da própria filha. Paul odiava o pai por ser um pervertido sexual.
Sua mãe abandonou a família e vivia isolada no porão da casa, resultado de uma severa depressão. Paul passou a odiava a sua mãe na adolescência. Descobriu que não era filho daquele que acreditou ser seu pai até então, e sim fruto de um caso amoroso da mãe com um antigo namorado. Entendia que ela era uma vagabunda já que havia traído seu pai.
O efeito dessa revelação foi devastador para Paul, que até então parecia ser um modelo de bom menino. Saiu do escotismo, que era um hobby, para se juntar ao grupo de bad boys da vizinhança. Passou a frequentar bares todas as noites, passou também a desprezar e enganar mulheres e começou a aflorar obscuras fantasias sexuais.
Sua preferência agora era por mulheres submissas e por sexo anal forçado, humilhava suas mulheres em público e as espancava em particular. Era uma forma de se vingar de todo o sexo feminino em cada mulher com quem se envolvia.
Entrou para a Universidade de Toronto e como não encontrava um emprego que o permitisse manter seus caros prazeres, começou a contrabandear cigarros pela fronteira do Canadá com os EUA. Quando se formou, foi contratado pela Price Waterhouse como contador júnior.
Apesar de ser bonito e charmoso, vivia uma fase sem namoradas, já que essas estavam cansadas de serem amarradas e espancadas por ele. Foi então que em Outubro de 1987 ele conheceu Karla Homolka, a garota de seus sonhos.
KARLA HOMOLKA
Karla Homolka
Morava no subúrbio de Toronto. Tinha duas irmãs mais novas, Lori e Tammy e uma família de classe média genuinamente feliz. Era uma garota popular e boa aluna, se tornou assistente de veterinária em um hospital de animais e seus planos consistiam em casar-se com um jovem rico.
Ficou completamente apaixonada por Paul Bernardo quando o conheceu em uma convenção de animais de estimação em Toronto, com quem passou a ter um relacionamento de verdadeira obsessão sexual.
Todos notaram a mudança de comportamento da jovem depois do começo do namoro. Karla desistiu da faculdade para se casar e ter filhos. Era totalmente submissa aos desejos de Paul, que controlava o que ela dizia, vestia ou ouvia.
CUMPLICES E AMANTES
Paul e Karla
Karla não sentia repulsa e encorajava o comportamento sádico de Paul e ficava feliz com o fato dele cometer estupros ocasionais. Tudo o que ela desejava era fazer o noivo feliz, e não teve problema nenhum em participar de maneira entusiasmada dos crimes sexuais que ele cometia.
A polícia investigava e coletava evidências de vários casos de estupro. Todas as descrições falavam de um jovem homem bonito, cheiroso e bem vestido. Uma das vítimas possibilitou um retrato falado do suspeito que não foi publicado na imprensa. Uma das vítimas alegou ter visto uma mulher junto com o estuprador, com algo que parecia ser uma câmera de vídeos nas mãos, mas ninguém acreditou.
Ao longo dos anos seguintes, Paul chegou a cometer 13 estupros ao redor de Scarborough. Ele agia sempre da mesma forma: quando a vítima descia de um ônibus, ele a agarrava por trás e empurrava-a para o chão.
Ele não havia estuprado as primeiras vítimas e, quando houve penetração, esta era com os dedos. Agora seu modo de ação estava cada vez mais violento e realmente o estupro acontecia. Forçava o sexo anal e felação, falava com a vítima todo o tempo e depois a deixava ir.
Karla e Paul ficaram noivos e em 1990 os pais de Karla propuseram que Paul fosse morar na casa deles. Ele então foi viver na casa da família Homolka sem perda de tempo. Nessa época Karla tinha 17 anos e Paul, 23 anos.
Paul e Karla
Nesse mesmo ano a polícia finalmente resolveu publicar o retrato falado do Estuprador de Scarborough, após a estudante Jennifer Galliganm comparecer a polícia para se queixar de seu antigo namorado, Paul Bernardo, em relação a seu comportamento de estupro brutal, abusos físicos e ameaças à sua integridade física. Além disso, havia coincidências entre os dois indivíduos, Paul Bernardo e o "Estuprador". Ambos possuíam carro modelo Capri de cor branca e Paul morava próximo aos locais de ataque.
Assim que o retrato falado foi publicado, várias pessoas conhecidas de Paul Bernardo ligaram para a polícia o identificando como o sujeito do retrato, já que existia bastante semelhança e então o detetive do caso resolveu fazer-lhe uma visita.
Retrato falado do Estuprador
Foram retiradas amostras de sangue, saliva e cabelo de Paul, junto com amostras de outros 230 suspeitos, para comparar com as amostras de sêmen coletada das vítimas. Apenas cinco das amostras dos suspeitos eram compatíveis com o tipo sanguíneo do criminoso, incluindo o de Paul, então testes mais detalhados foram solicitados.
O problema é que até todos os testes serem concluídos, o Estuprador de Scarborough tinha encerrado suas atividades, então o caso não era mais prioridade e, sendo assim, os testes foram engavetados.
O PRIMEIRO SANGUE
Quando Paul passou a desejar a irmã caçula de Karla, Tammy Homolka, Karla se desesperou ao perceber que os dois estavam cada vez mais unidos e ela parcialmente excluída. Paul propôs a Karla que promovesse seu encontro com Tammy, sem que ela soubesse, para que ele lhe tirasse a virgindade. Karla ficou particularmente feliz ao concordar com a fantasia do noivo, seria seu presente de casamento pra ele.
Decidiram usar halotano para dopar Tammy, um anestésico quatro vezes mais forte que éter e utilizado através da inalação por animais antes de cirurgias, ao qual Karla tinha fácil acesso devido o seu trabalho. Karla deveria colocar o anestésico numa roupa, segurar contra a face de Tammy e acompanhar seus sinais respiratórios... Só não sabia exatamente qual a dosagem exata que deveria utilizar para que Tammy não reagisse ao estupro.
No Natal daquele mesmo ano (1990), Paul deu vários aperitivos com o sedativo diluído para Tammy. Os efeitos da droga misturada ao álcool foram rápidos e logo ela estava adormecida no sofá. Paul filmou toda a ação e quando os familiares foram se deitar, ele e Karla começaram a "trabalhar" Tammy.
Paul estuprou a menina via vaginal e anal. Enquanto Karla segurava o anestésico sobre a face de Tammy, Paul ordenava que ela também fizesse carinhos sexuais e sexo oral na irmã. De repente Tammy vomitou, e Karla levantou a irmã de cabeça pra baixo, tentando limpar sua garganta.
Tammy entrou em choque. Assustados e sem sucesso nas tentativas de ressuscitar Tammy, eles a vestiram, esconderam as drogas e a filmadora e chamaram uma ambulância. Após a morte da irmã, o casal ainda filmou cenas no quarto de Tammy onde Karla fingia ser a irmã e eles mantiveram relações sexuais entre as bonecas da vítima.
Os pais só souberam que havia algo de errado quando ouviram a sirene à sua porta e foram levados a acreditar que Tammy morreu em decorrência de um choque acidental causado pelo próprio vômito.
Fotos policiais 'post-mortem' de Tammy Lyn Homolka, tirada no hospital St. Catherines General, na manhã de 25 de Dezembro de 1990.
Paul achou inadmissível o fato de Tammy ter morrido e culpou Karla pelo ocorrido. Agora ele não tinha mais a menina disponível e ordenou que a noiva fizesse uma reposição, desejava outra jovem virgem. A procura por novos presentes para Paul daria início a uma carreira de homicídios ao casal.
O CASAL LETAL
O luto de Karla não demorou muito. Estava ocupada com os preparativos de seu casamento e algumas semanas antes ela atraiu uma de suas amigas, uma adolescente chamada Jane, e deu a ela o mesmo tratamento que havia dado a sua irmã. Jane, porém, sobreviveu ao ataque. Acordou confusa e sem saber que havia sido estuprada pela amiga e por seu noivo.
Exatamente duas semanas antes do casamento, Leslie Mahaffy, uma garota de 14 anos, havia desaparecido. O casal estuprou e torturou sexualmente a menina durante 24 horas, filmando todo o ato, com uma clara participação ativa de Karla, seguindo um elaborado roteiro, como se fosse uma produção cinematográfica pornográfica, antes que Paul finalmente a matasse e desmembrasse. As partes do corpo de Leslie foram envolto em cimento, formando flocos que foram jogados no lago Gibson logo em seguida.
Paul Bernardo e Karla Homolka se casaram em 29 de junho de 1991, em uma cerimônia perfeita em Niágara, onde cada detalhe foi controlado por Paul, incluindo o vestido e o penteado da noiva e o menu do jantar. Nenhuma despesa foi poupada. Tiveram direito a carruagem, igreja histórica e cavalos brancos, champanhe e jantar para 150 convidados. Por vontade de Paul, foi incluso “amor, honra e obediência” nos votos da noiva.
Fotos do casamento de Paul Bernardo e Karla Homolka
No mesmo dia do casamento de Paul e Karla, o corpo de Leslie Mahaffy havia sido encontrado no lago Gibson por um casal de pescadores. Quando uma represa foi aberta e o nível da água abaixou, eles repararam num bloco quebrado, criando um pequeno reservatório, onde encontraram pernas. A polícia foi chamada e, nas buscas, encontraram cinco blocos de concreto envolvendo partes de um corpo.
As primeiras partes a serem encontradas foram as pernas e os pés, seguidos do torso e dos braços, todos cortados por uma potente serra. Os característicos suspensórios que eram “marca registrada” de Leslie possibilitaram sua identificação antes mesmo que sua cabeça fosse localizada e a arcada dentária confirmasse a identificação.
Em julho do mesmo ano, Paul ficou uma semana a espreita de uma moça de 21 anos, chamada Rachel Ferron. Ao perceber que estava sendo perseguida, anotou a placa do carro e resolveu procurar a polícia. O carro estava registrado em nome de Paul Bernardo, mas a polícia não deu muita atenção por estar ocupadíssima com o caso de Leslie.
Em novembro do mesmo ano, Terri Anderson de 14 anos, desapareceu. Foi a escola que ficava a três quarteirões de sua casa e nunca mais foi vista.
Em 16 de abril de 1992 Kristen French, uma garota muito popular, havia sido raptada no estacionamento da igreja ao lado da escola de Terri, onde foram encontrados somente seus sapatos. Kristen, assim como Leslei, também havia sido mantida em cativeiro e torturada sexualmente pelo casal antes de morrer. Também foi obrigada a seguir um roteiro como se fosse uma produção cinematográfica pornô.
No dia 18 abril, Lori Lazurak relatou a policia que havia sido filmada por alguém que dirigia um carro de placa 660HFM, mas mais uma vez o caso não foi levado a sério porque a polícia estava ocupada com o desaparecimento de Kristen.
O corpo de Kristen foi encontrado numa vala 14 dias após seu desaparecimento, estava nua e o cabelo tinha sido tosado, num claro sinal de degradação e subjugação da vítima. Seu assassinato não foi correlacionado com o de Leslie porque, ao contrário dela, Kristen não havia sito desmembrada.
Em maio do mesmo ano foi a vez do corpo de Terri ser encontrado, seis meses após seu desaparecimento. O legista não encontrou nada de estranho na necropsia daquele corpo que estava tanto tempo mergulhado das águas em Port Dalhouse. A causa da morte foi declarada oficialmente como afogamento, consequência da combinação de cerveja e LSD, fato negado veementemente pela mãe da menina.
A INVESTIGAÇÃO
Depois da morte de Kristen, o governo montou uma força-tarefa com linha direta e base de operação. Especialistas forenses e o FBI se uniram para descrever o assassino.
Uma testemunha disse ter visto uma luta dentro de um carro no estacionamento da igreja luterana e disse achar que o carro era um Camaro ou um Firebird de cor creme. Então concentrou-se uma operação para levantar dados sobre todos os Camaros da região.
Paul apareceu mais uma vez na investigação e então dois policiais foram até a sua casa. Notaram que seu era um Nissan, nada parecido com um Camaro, e que sua casa era bem limpa e organizada. Além disso, Paul foi extremamente cordial e colaborativo, dizendo ainda que tinha sido confundido com o Estuprador de Scarborough devido a semelhança com o retrato falado.
Apesar da boa aparência que Paul causou aos policiais, os mesmos resolveram fazer um trabalho completo e solicitaram os resultados das investigações do caso do Estuprador de Scarborough. Os testes finais com as amostras colhidas de Paul ainda não haviam sido concluída e tecnicamente ele ainda era um suspeito.
O COMEÇO DO FIM
Dos 16 ataques do Estuprador de Scarborough, oito havia sido de formas brutais. Todos ocorreram entre maio de 1987 e maio de 1990, nas proximidades do Metro Toronto, onde Paul morou com sua esposa até abril de 1991. Neste mês o casal havia se mudado para Port Dalhousie, em St. Catherines, onde os crimes de homicídio aconteceram.
Em Janeiro de 1993 foi solicitado que o laboratório forense examinasse as amostras de Paul, depois de tomarem conhecimento de que Karla havia sido espancada pelo amigo. A denuncia foi feita pelo marido de uma amiga de Karla, que era policial em Toronto, após ela pedir ajuda a amiga e ser levada pelo casal ao hospital.
Resultado da agressão de Paul contra Karla
Os testes de Paul foram concluídos e os resultados conclusivos, pois combinavam 100% com o material recolhido das vítimas do Estuprador de Scarborough. Paul foi imediatamente colocado sob vigilância.
As polícias de Toronto e Ontário quiseram entrevistar Karla, tiraram suas impressões digitais e a questionaram sobre o seu relógio de pulso do Mickey Mouse, igual ao relógio desaparecido de Kristen. Depois de quase 5 horas de interrogatório, Karla percebeu que a polícia já tinha associado o Estuprador de Scarborough com os assassinatos em St. Catherine.
Karla se apavorou e contou a um tio que o marido era um estuprador e que tinha assassinado Kristen French e Leslei Mahaffy. Em fevereiro Paul foi preso pelos estupros em Scaborough e pelos assassinatos de Kristen e Leslei, enquanto Karla se afundava no consumo excessivo de analgésicos e álcool.
A polícia executou uma busca na casa do casal e várias evidências foram encontradas:
- Um diário escrito por Paul onde ele detalhava cada estupro que cometeu,
- Uma coleção de livros e vídeos sobre desvio sexual, pornografia e serial killer.
- Livro Psicopata Americano (que narra a história de um loiro, narcisista homem de negócios de 20 e poucos anos que rapta, tortura e estupra jovens meninas)
- Livro Perfect Victim (história real de um homem na Califórnia que raptou uma moça de 20 anos, brutalizou e manteve como sua escrava sexual por sete anos)
- Uma fita de rap de autoria do próprio Paul, de título Inocência Mortal, a qual as letras retratam lembranças de seus crimes
- Um vídeo caseiro onde Karla aparecia em relações sexuais com mais duas mulheres.
As fitas de vídeo em que os homicídios estariam registrados desapareceram ou nunca existiram. Sem as fitas, Karla era a única arma apontada contra Paul em relação àqueles homicídios.
O advogado contratado, ao perceber o quanto sua cliente estava envolvida nos homicídios, resolveu tentar algum tipo de imunidade para ela: Karla pegaria doze anos de prisão para cada uma das duas vítimas, sentença a ser cumprida simultaneamente, e estaria elegível para liberdade condicional por bom comportamento em três anos. Além disso, Karla não deveria cumpri sua pena numa prisão comum, mas sim em um hospital psiquiátrico, tudo em troca de cooperação com a polícia. Ninguém discordou já que o testemunho de Karla contra Paul era importantíssimo.
Em março Karla foi internada em um hospital psiquiátrico para ser tratada, onde ela resolveu escrever uma carta aos pais contanto como ela e Paul haviam assassinado sua irmã, Tammy Homolka, em uma macabra “brincadeira” do casal.
CULPADOS
No julgamento de Karla, seu psicólogo concluiu o depoimento dizendo que Karla sabia o que estava fazendo para agiu por medo, permanecendo obediente e subserviente ao marido que a espancava. Infelizmente as fitas, onde mostra claramente a atuação de Karla, não puderam ser utilizadas em seu julgamento, pois eram provas contra Paul.
Karla Homolka em seu julgamento
O juiz aceitou o proposto pelo advogado de Karla já que seu depoimento seria decisivo no julgamento de Paul. Então ela foi condenada a doze anos de prisão por cada uma das duas vitimas, a ser cumprida simultaneamente, e o acordo incluía imunidade ao assassinado de sua irmã, Tammy Homolka. Esse acordo foi apelidado pela imprensa como "Acordo com o Diabo".
Em Fevereiro de 1994, Paul e Karla se divorciaram. Ela cumpria pena na prisão para mulheres de Kingston e fazia curso de sociologia e psicologia por correspondência, na Universidade de Queens. Em junho de 1995 foi transferida para a Metro West Detection Center, em Toronto.
Karla Homolka na prisão
***
O julgamento de Paul aconteceu dois anos depois de sua prisão. A demora decorreu devido ao fato de Paul contar a seu advogado, através de um telefonema, onde estavam as fitas de vídeos que ele e Karla fizeram. Como as conversar entre eles estavam sendo gravadas, logo seu advogado foi pressionado a entregar as fitas para a promotoria do caso, que acabou o fazendo antes de abandonar o caso e ser substituído na defesa de Paul.
Paul Bernardo em seu julgamento
Paul era acusado por dois homicídios em primeiro grau, dois ataques sexuais, dois confinamentos forçados, dois sequestros e uma acusação de causar constrangimento para um corpo humano. As fitas se tornaram a principal peça contra ele.
Ao depor contra Paul, Karla contou que usava uma coleira de cachorro obrigada por ele, que ele introduzia garrafas em sua vagina e que quase a estrangulava com uma corda para satisfazer suas sádicas fantasias sexuais. Contou também como Paul cortou o corpo de Leslie em dez partes utilizando uma serra elétrica, e que havia ajudado ele a se desfaz das partes envolta em cimento no rio, mas que apanhou por ter se esquecido de usar as luvas. Segundo Karla, após a morte de Leslie, ela era espancada e, toda vez que hesitava em ajudar, era ameaçada de morte. Paul dizia que suas fantasias eram importantes pra ele e que nunca machucaria ninguém.
A defesa de Paul então trabalhou em tentar atacar a credibilidade do depoimento de Karla, a mostrar que ela não era uma vítima de Paul, e sim uma cúmplice. Paul contou sobre a frieza da esposa que, logo após o estrangulamento de Kristen, foi secar os cabelos porque tinha um jantar com os pais. Ficou claro para todos que Karla havia manipulado as circunstancias de sua colaboração em um acordo com o governo canadense.
No julgamento, Paul era culpado até que provasse sua inocência, enquanto Karla era inocente até que sua culpa fosse comprovada. O acordo com Karla foi feito antes da justiça tomar conhecimento das fitas de vídeos ou tivesse acesso a elas.
Enquanto a defesa trabalhou para mostrar Karla como cúmplice ativa para diminuir a culpa de Paul, a promotoria tratou-a como uma mulher fraca que sofria da Síndrome da Mulher Espancada. [Síndrome reconhecida pelas leis canadenses onde endossa que a uma mulher em um relacionamento abusivo está justificada por atos normalmente não tolerados, uma vez que age para proteger a si mesma.] Porém muitos acreditam que no caso de Karla a síndrome não se aplica, pois ela só buscou ajuda quando viu a própria vida ameaçada, era uma mulher egoísta.
AS FITAS
As fitas de vídeos foram vistas apenas pela corte e pelo júri, o público e a mídia puderam somente ouvi-las.
Um dos vídeos mostrava Karla se masturbando para a câmera e Paul forçando-a a fazer coisas contra sua vontade, a ser escrava sexual do “Rei Bernardo”, como ela o chamava. Depois de assistir as fitas, o júri tinha uma completa ideia da profunda depravação sexual de Paul Bernardo.
Imagens de Karla algemada e amordaçada por Paul Bernardo
Outro vídeo mostrava o ataque contra Tammy, onde Paul a violentava e Karla filmava. O rapaz ordenando que Karla fizesse sexo oral com a irmã e depois de vários “nãos”, ela cedendo à vontade dele. Mostrou também Karla dizendo que havia adorado ver a irmã sendo estuprada, que sua missão era fazer Paul se sentir bem e que seria sua provedora de novas virgens.
Outros vídeos mostravam o casal espancando e estuprando Leslie e Kristen. Enquanto um agia, o outro filmava e “dirigia” a cena. Numa dessas cenas, Kristen foi obrigada, sob ameaças, a dizer por 26 vezes que amava Paul, enquanto ele a estuprava, em seguida foi terrivelmente surrada e ameaçada de que morreria logo se o prazer de Paul não aumentasse.
Nas imagens Karla deu várias ordens a Kristen, mandando-a sorrir enquanto estava sendo estuprada e a ensinando como fazer com que o prazer de Paul aumentasse, além de ataca-la sexualmente com uma garrafa de vinho. Nada nas imagens demonstrava qualquer desprazer ou repulsa de Karla, teve várias chances de cair fora e não usou nenhuma. Durante a semana que Leslie ficou cativa, Karla saiu todos os dias para trabalhar e, em pelo menos duas vezes, ficou tomando conta da garota enquanto Paul saiu para comprar comida.
CULPADOS
Dois psicólogos avaliaram Paul Bernardo como tendo comportamento parafílico, sádico sexual, voyeur, hebéfilo, toucherismo, coprofílico, alcoólatra e com distúrbio de personalidade narcisista, mas nenhum deles achou que Paul fosse um psicótico.
Paul afirmou que amarrar e algemar garotas para ter relações sexuais com elas era sua ideia de vídeo pornográfico, mas que não as matou, que elas teriam morrido quando ficaram as sós com Karla. Segundo ele Leslie morreu de overdose, que ele iria jogar ela em qualquer lugar ermo, mas resolveu esconder seu corpo quando percebeu que estava morta. Então enquanto cortava o corpo dela em partes, a esposa limpava cada uma delas para que pudessem concretá-las.
Em relação a Kristen, Paul diz ter deixado a jovem amarrada pelos pés e algemada pelas mãos enquanto foi comprar comida, por segurança teria amarrado num fio em seu pescoço atando a outra ponta na cômoda. Quando pediu para ir ao banheiro, Karla desatou seus pés e ela tentou sair correndo para escapar, acabando por se enforcar.
As vítimas mortais de Paul Bernardo e Karla Homolka
Estava claro que o casal havia atacado as vítimas sexualmente, só restava saber quem de fato cometeu os homicídios.
Em 1º de Setembro de 1995, Paul foi considerado culpado por todas as acusações contra ele, condenado a prisão perpétua, faltando ainda ser julgado pela morte de Tammy e pelos estupros em Scarborough. Poderia apelar pela liberdade condicional depois de 25 anos de prisão, sua apelação foi imediatamente feita após o julgamento e negada em 21/09/2000.
A casa do casal foi demolida depois que o proprietário nunca mais conseguiu alugá-la.
Em março de 2001, Conselho Nacional de Condicional do Canadá resolveu não dar liberdade condicional a Karla Homolka, que havia mudado o nome para Karla Teale, após relatório final de suas análises psiquiátricas onde dizem que ela era considerada “superficial, articulada, manipuladora, egocêntrica, se não narcisista, cujo comportamento não pode ser explicado somente pela intimidação ou abuso exercidos por Paul Bernardo. Apesar de sua habilidade em apresentar-se bem, há uma vacuidade moral e ausência de empatia pelas vítimas.”. Concluíram então que se fosse solta, poderia ainda cometer crime causando morte ou sério mal a outra pessoa.
Karla Homolka na prisão
Em Julho de 2005, após cumprir integralmente sua pena e sem mais recursos legais que permitissem a continuidade de sua reclusão, Karla Teale foi liberada sob algumas condições especiais, como não se casar com algum criminoso ou ficar em posição de autoridade ante menores de 16 anos.
Assim que saiu da prisão, Karla concedeu uma entrevista para a Radio Canadá, onde diz: “O que fiz foi terrível. Eu estava em uma situação onde estava incapaz de ver claramente, onde eu estava incapaz de pedir ajuda. Onde estava completamente oprimida na minha vida e me arrependo muito, porque agora eu sei que tinha o poder de parar tudo aquilo. Mas quando eu estava morando com ele, eu pensei que não tinha o poder."
Em 2006, Karla, agora Leanne Teale e casada com Thierry Bordelais, tornou-se mãe de um menino. Hoje vive em Quebec, no Canadá e é mãe de mais duas crianças.
Imagem atual de Karla, em uma entrevista para um programa de TV
É possível afirmar que sem Paul, Karla nunca teria matado, enquanto é certo que Paul o faria, com ou sem uma amante como cúmplice.
Paul Bernardo permanece preso.
Filme: KARLA, PAIXÃO ASSASSINA
Poster do Filme + Cena do casamento de Paul e Karla
SINOPSE: Karla Homolka está presa e passa por uma avaliação psiquiátrica, em busca de liberdade condicional. Ela relata sua vida desde que conheceu Paul Bernardo e os fatos são mostrados em flashback.
Baseado na história verídica de Paul Bernardo e Karla Homolka, um espantoso casal de Serial Killers canadense, que resultou numa série de vítimas adolescentes. Bastante fiel à história real, o roteiro é totalmente baseado nas transcrições da corte, entrevistas e vídeos dos ataques, filmados pelos próprios criminosos.
Lembrando que o filme é, na maioria, baseado no ponto de vista de Karla, relatado em suas sessões com um psiquiatra, as quais ela estava fazendo com a tentativa de conseguir liberdade condicional. Isso pode levar o espectador a entender que Karla foi vítima de Paul Bernardo, por medo e por paixão, ao invés de parceira criminal, mascarando o fato de que Karla sentia prazer ao participar dos crimes com Paul.
Por esse motivo o filme acaba sendo partidário de Karla, então para evitar uma má interpretação sobre o quão culpada ela é, é válido relembrar ANTES de assistir ao filme que Karla teve sua liberdade condicional NEGADA após relatório final de suas análises psiquiátricas onde dizem que ela foi considerada “superficial, articulada, manipuladora, egocêntrica, se não narcisista, cujo comportamento não pode ser explicado somente pela intimidação ou abuso exercidos por Paul Bernardo. Apesar de sua habilidade em apresentar-se bem, há uma vacuidade moral e ausência de empatia pelas vítimas.”
Assista ao Trailer:
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